Tem faro e pautas? Tem! É ágil como ninguém...O que o jornalista tem?*
No jornalismo, independente do tempo ou das
inovações tecnológicas, alguns pontos são essenciais para quem quer exercer a
profissão. Foi sobre esses pontos, que conversamos com o jornalista Daniel
Brandi, que atualmente trabalha como Editor de texto na TV Sergipe e nos
contou um pouco sobre sua trajetória e sua experiência.
Um momento importante é quando Daniel nos aponta que
um dos principais fatores para o sucesso de um jornalista é a sua capacidade de
aprender de tudo um pouco, ou seja, um jornalista polivalente, que domine não
só duas, mas três, quatro ou mais áreas, característica essa, também apontada no
revolucionário livro Jornalismo 2.0 -
Como sobreviver e prosperar de Mark Briggs.
Vamos conhecer melhor o jornalista
Daniel Brandi, sua carreira e opiniões a respeito da própria profissão.
O jornalista Daniel Brandi (Foto: Arquivo pessoal) |
Melo
Journal: Daniel, conte um pouco sobre sua carreira, sua
trajetória. Quando e onde se formou? O que esperava do curso? Como foi o começo
de sua carreira?
Daniel
Brandi: Minha formatura aconteceu em 2007, pela
Universidade Federal de Sergipe. Durante o curso, conheci professores de
experiências variadas, que contribuíram positivamente para minha formação. Logo
nas primeiras aulas, descobri que o curso de Jornalismo tinha como base uma
série de disciplinas de áreas fundamentais do conhecimento, como História
Econômica, Estética, Sociologia e Filosofia. E como aprendi nessas aulas!
Fiquei impressionado com a paixão pelo conhecimento de muitos desses
professores – algo que despertou em mim o interesse por assuntos tratados
superficialmente nas escolas.
No decorrer do curso, percebi que era preciso ir
além dos temas ensinados na sala de aula. Por isso a biblioteca se tornou minha
segunda casa, onde busquei praticar o que batizamos (eu e um colega) de
“Universidade Paralela”. Chegamos a organizar uma palestra com esse nome, onde
convidamos jornalistas de diferentes áreas.
Com o diploma na mão, dei continuidade à profissão
que aprendi na fase do estágio. Desde então, sou editor de texto e amo o que faço.
Os métodos e instrumentos da edição aprendi na prática, ano após ano. Mas o
arcabouço teórico vem da faculdade, que nos oferece régua e compasso para uma
análise crítica dos fatos – antes e depois de se transformarem em notícias.
Melo
Journal: Quando começou a trabalhar na área? Você consegue
enxergar mudanças na forma de trabalhar ao longo desses anos? Quais mudanças?
Daniel
Brandi: Meu emprego veio em consequência do estágio. Contei
com o privilégio de não precisar distribuir currículos e considero isso uma
bênção, já que o mercado das Redações é bem restrito. Quanto às mudanças, posso
dizer que o Jornalismo é uma das áreas mais afetadas pela revolução
tecnológica. Vivemos o desafio de noticiar cada vez mais rápido, num estágio
social em que muitos se tornam, por iniciativa própria, ativos produtores de
notícias. As informações chegam às Redações no exato segundo em que acontecem.
Cabe ao jornalista reforçar o filtro das fontes e calibrar melhor a pontaria
sobre o que merece ser divulgado. Na minha opinião, a principal mudança é ter
que renovar o sabor da notícia, mesmo quando ela já foi provada e digerida nas
redes sociais da Internet.
Melo
Journal: Pra você, quais são os pré-requisitos para ser um
jornalista hoje?
Daniel
Brandi: Em primeiro lugar, o jornalista tem que gostar de
ler. Aprendi com meu tio que “quem não lê, não escreve”. E esse ditado será
sempre atual. Afinal, o formato, a plataforma, o meio, o público podem mudar,
mas a força de um texto continuará a ser medida pela familiaridade do jornalista
com as palavras. A profissão requer paixão pela leitura. Além disso, é preciso
ser ágil e observador. Ágil para pautar, reportar e editar com qualidade em
tempo reduzido. E observador para descobrir novos ângulos para assuntos comuns.
O bom jornalista sabe transformar uma pauta sobre vendas natalinas em uma
reportagem inédita.
Melo
Journal: Você vê algum pré-requisito a mais para ser um bom
jornalista na área em que você atua, o telejornalismo?
Daniel
Brandi: O Jornalismo da TV precisa enfrentar a
instantaneidade do Jornalismo Online e a rapidez do Rádio. Para tanto, a melhor
arma é ir a fundo nos fatos, esmiuçar determinado assunto para o telespectador
sob a ótica de quem gosta de ser informado sobre todos os detalhes, nuances e
sutilezas. O telejornalismo tem essa possibilidade. E no caso das hard news, o ideal é ter a tesoura
afiada, mas sem cortar o essencial. Para preparar matérias curtas e objetivas,
o profissional deve ter em mente critérios bem definidos de prioridade e
relevância. Em síntese, o bom senso deve estar sempre presente. Afinal,
determinadas histórias merecem um tempo maior para serem contadas. Trinta
segundos a mais podem fazer toda a diferença, podem gerar um impacto
fundamental a uma reportagem e podem ser o gancho para a repercussão no dia
seguinte. Portanto, o telejornalismo requer faro aguçado, uma boa tesoura e uma
excelente calculadora conceitual.
Melo
Journal: Você poderia dar alguma dica, sugestão ou indicação
que possa ajudar aos futuros jornalistas a melhor trabalharem, a melhor se
colocarem no mercado de trabalho?
Daniel
Brandi: Uma boa sugestão é procurar, no momento da
graduação, aprender um pouco de tudo. Nos quatro anos do curso, dá tempo de
aprender muito sobre Teorias da Comunicação e também sobre a prática da
produção, reportagem e edição em Rádio, Impresso, Online e TV, além da
Assessoria de Imprensa. Se não for possível desenvolver bem cada uma das
possibilidades durante as disciplinas da faculdade, o caminho é se envolver nos
estágios, demonstrar interesse pelo aprendizado nessa fase primordial.
Estagiário tem que explorar cada área do conhecimento que for possível, em vez
de deixar ser explorado em atividades superficiais. Tem que ir à luta, procurar
aprimorar o texto, buscar exemplo nos profissionais mais antigos, desenvolver
um estilo próprio, trabalhar desde o início a humildade para lidar com a
exposição na mídia, encarar o sentido do Jornalismo como dever de cidadão e
renovar o olhar, para não transformar a profissão em burocracia de gabinete
público.
* Parodiando a famosa música de Carmen Miranda (O que é que A Bahiana tem?)
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